Afetos e emoções na psicanálise: a diferença entre o que se sente e o que fica. Um texto sobre o espaço entre a emoção, a palavra e o silêncio.
Há sentimentos que chegam antes das palavras. Eles se insinuam no corpo, escapam num gesto, num silêncio, num olhar que demora. Chamamos de emoção, porém o nome ainda é raso. A emoção é o movimento imediato, o que pulsa e transborda. O afeto, porém, é o que fica. É o vestígio que o sentir deixa no sujeito.
Mas afinal, qual o papel dos afetos e das emoções dentro de uma abordagem psicanalítica? Será que são apenas como estados passageiros ou são meras reações biológicas como forças que atravessam o sujeito, a linguagem e a sua história?
Na psicanálise, o afeto não é um sinônimo de emoção. Ele é o modo como o inconsciente sente, o traço que se inscreve quando algo nos toca de forma profunda demais para ser dito. Há afetos que se calam, que se transformam em sintomas, que voltam em sonhos ou em repetições. Eles não desaparecem; apenas encontram outros caminhos para existir.
Desde o início da vida, o que sentimos é o que nos liga ao outro. As primeiras experiências de cuidado (o toque, o tom de voz, a presença ou a ausência) moldam o modo como passamos a sentir o mundo. São os afetos que organizam nossas relações, mesmo quando acreditamos estar apenas reagindo.
Em análise, o trabalho com os afetos não é explicar o que se sente, mas abrir espaço para que o sentir se diga. A emoção se transforma em palavra, o afeto encontra forma, e algo de novo pode nascer onde antes havia apenas repetição.
Falar de afetos é falar daquilo que nos move e que, às vezes, do que nos paralisa. Entre o que se sente e o que se diz, há um intervalo onde a psicanálise se faz: o espaço de escutar o que insiste em retornar.
Às vezes, é nesse intervalo que o sujeito começa, pela primeira vez, a se escutar.
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